What the Water Gave Me - Frida Kahlo
Essa cor é rubra. Parece sangue. Eu estou deitado nela como uma marionete sem cordas. Não consigo me mexer. Há água na minha boca, mas eu não me incomodo.
O primeiro suspiro me faz doer o estômago. Sinto algo subir em mim. Algo estranho. Redondo.
Suspiro antes da bolha que estava no meu ser escoar pela minha garganta e parar na minha frente, brilhando pelo mar vermelho em que eu me encontrava.
Era uma bolha amarelada. Estéril ao mesmo tempo. Ela paira na minha frente, ameaçando explodir a qualquer momento.
Eu hesito. Não sabia se era certo deixar que ela fosse embora, explodisse e me deixasse.
Antes mesmo de fazer algo, eu só vejo a bolha na minha frente explodir e um grande barulho sacudir toda a esfera na qual eu vinha a me encontrar.
Foi aí que eu descobri o que era aquela esfera.
Era uma parte de mim. Um grito de sofrimento que eu escondia todo o tempo.
E agora eu estava livre para morrer. Para viver. Para entregar-me para os demônios que há tanto me perseguiam. Para talvez vir a queimar por minhas mentiras ditas. Para as minhas meias-verdades.
Mas mesmo assim eu não me liberto. Apenas afundo mais em meu oceano de dor.
Embora eu esteja triste por estar no fundo, eu não consigo ver as coisas que me deixavam tristes antes. É como se o fundo fosse a paz que eu nunca tive.
O fundo do poço.
O fundo eterno no qual eu me encaixo.
texto de Júlio César originalmente publicado aqui.
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